

Com: Ryo Ishibashi, Eihi Shiina, Tetsu Sawaki, Jun Kunimura, Renji Ishibashi, Miyuki Matsuda, Toshie Negishi, Japão, 1999. 115 minutos. Direção: Takashi Miike
Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=yhsrsWcEspc
O filme começa com a morte de Ryoko, mulher de Aoyama, um produtor de cinema. Sete anos após a morte de Ryoko, Aoyama resolve se casar de novo. Com a ajuda de um amigo cineasta, resolve montar uma audição para a escolha da protagonista de um filme que na verdade é apenas um pretexto para que ele conheça o perfil de várias mulheres e escolha a ideal para se casar com ele. Imediatamente, Aoyama fica fascinado por Asami, uma bela e jovem bailarina. Apesar de não ser escalada para o filme, Aoyama liga para ela e a convida para jantar. Com medo de apressar as coisas, só volta a contactar a moça mais tarde. Asami deixa o telefone tocar; ela está sozinha num quarto escuro, mas...

No geral, Audition é um filme sobre amor, mas um filme sobre amor que se divide em três partes completamente diferentes construídas em fatias de tensão que vão aumentando em doses cavalares até chegar no clímax do trabalho, que beira o insuportável: a primeira parte, dramática e carregada emocionalmente, é narrada em ritmo lento e clima de mistério que dá oportunidade aos personagens de se desenvolverem e se estudarem; a segunda, que é uma comédia romântica um tanto desajeitada e, por isso mesmo, perfeita, e a terceira parte, que mostra os traços característicos que definem o cinema de Miike: tensão, ambientes doentios, hiperviolência e uso descarado do gore, que aliado a um jogo interessante de luzes que enfatizam os sonhos e alucinações dos personagens, é capaz de fazer até um Rambo da vida se borrar de medo.
Um dos pontos interessantes do filme é que o longa retrata Aoyama (metáfora da sociedade japonesa) como um homem bom, mas bastante machista e "superficial" no que diz respeito à estética das pessoas (mulheres em especial). Aliás, acho que a temática do filme está fincada de corpo e alma nesse argumento; no fato de a mulher ter que atender a todas as expectativas do homem e o contrário não ser aceitável. Por exemplo: quando o filho do produtor de cinema está em casa com uma menina, ele ressalta que a moça é muito bonita e faz, sem que ela perceba, um sinal de OK aprovando a escolha do rapaz por ter "escolhido bem". Outro exemplo acontece quando o filho do produtor aconselha o pai a escolher bem a sua nova esposa e dizer que “se um dia quiser casar de novo, que seja com alguém que cozinhe melhor que a Rie”. E as próprias dúvidas que rondam a mente de Aoyama sobre Asami são frutos das suspeitas que um amigo pentelho do produtor tem da moça e fica martelando em sua cabeça por não considerá-la boa o suficiente para o amigo.

A fotografia e a montagem têm papel fundamental na ligação das partes do filme. Essa ligação funciona porque consegue fazer o espectador se interessar pelos personagens. Eihi Shiina, que interpreta o papel de Asami, consegue ser bela, absolutamente maligna e psicologicamente afetada ao mesmo tempo. Essas facetas são personificadas com perfeição pela atriz nipônica, e realmente dá medo ver aquela japonesinha de aparência frágil e linda dizendo que Aoyama (eu e todos os machos insensíveis do mundo) tem que amá-la e não amar mais ninguém no mundo além dela. Ryo Ishibashi também está seguro e soa bastante convincente na pele do solitário viúvo Aoyama. Sua cena final é arrepiante e, ao mesmo tempo, emocionante.

Mas indiferente ao preconceito do grande público e do público “intelectual”, Audition é um clássico absoluto do cinema de terror por vários motivos, mas principalmente por causa do rigor e do talento de Miike, que jamais permite que o filme descambe para a grosseria. E é aí que reside seu talento no cinema extremo: ele sabe exatamente a maneira de transformar a violência não apenas num fetiche, mas num instrumento de exposição de idéias e críticas.
O Miike é foda!²³ Se eu fosse mulher, casava com ele!
"Pé direito, por favor!"
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O filme ainda não foi lançado no Brasil e tem distribuição no exterior pela American Cinemathéque/ Ventura Entertainment.