sábado, 24 de maio de 2008

SYMPATHY FOR LADY VENGEANCE

Park Chan-Wook encerra sua trilogia da maneira mais sóbria, cruel e competente possível.


Com: Lee Yeong-ae, Choi Min-sik, Oh Dal-su, Lee Seung-Shin, Kim Byeong-ok. “Chinjeolhan geumjassi” Coréia do Sul, 2005. 112 mins. Direção: Park Chan-wook. Distribuidora: CJ Entertainment/Tartan Films.

Site oficial: http://www.geum-ja.co.kr/
Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=tUFaDj3mBCI
Cotação: 9

Quando a fama da trilogia da vingança de Chan-Wook Park ganhou dimensões internacionais com Oldboy, os cinéfilos que viraram fãs do diretor sul-coreano começaram a se perguntar o que poderia vir depois do sensacional filme anterior. A expectativa em torno do capítulo final da trilogia era altíssima, uma vez que o seu antecessor fora um sucesso estrondoso. E Park não decepcionou: fez outro filme magnífico.
Diferentemente de Mr. Vengeance, em que os personagens eram reféns de situações complexas e de Oldboy, que tem um protagonista sem moral nenhuma e que não tem controle sobre a vingança, Lee Geum-ja, a Lady Vengeance, é como o Chapolim: tem tudo friamente calculado para completar a sua revanche. Tão calculado que faz de Lady um filme “reto”, sem reviravoltas, que conta a busca por vendetta de Lee Geum-Ja, que passa 13 anos na cadeia depois de assumir a culpa num crime que não cometeu, e vê sua filha ser levada embora pelo seu ex-namorado e verdadeiro responsável por tudo: o Sr. Baek (Choi Min-sik).
Dos três longas, Lady Vengeance é o que traz o dilema moral mais explícito e o que mais usa flashbacks. Eles nos levam para a época em que Geum-ja estava presa e nos fazem entender por que ela é chamada de 'anjo' pelas outras detentas, além de nos fazer conhecer a história das personagens com quem se envolveu durante a prisão (e aqui merece destaque a detestável caminhoneira que espanca as companheiras de cela e... bem, vejam o filme e 'degustem' a cena do banheiro. Hehehehe).
E não ouse pensar que pelo fato da personagem principal ser mulher a vingança será mais leve. Muito pelo contrário: este é o filme em que o sadismo se mostra de forma mais clara. O culpado não pode apenas morrer, tem que sofrer, e sofrer como um cão. Mas apesar do culpado ter de sofrer, o filme não é tão violento quanto Mr. Vengeance e Oldboy, o que provavelmente vai frustar aqueles que esperam marteladas e rins de traficantes arrancados. Mas nada de pânico. O filme tem seus momentos “Ichi The Killer”, como o que Geum-Ja dá um tiro na mão de um bandido e arranca a mão do cara.
Considero Lady Venceance um pouco (pouquinho mesmo) menos forte que os dois filmes anteriores, e o motivo pra isso é o fato do roteiro não ser tão trabalhado quanto os outros. Aqui tudo corre como o previsto (mas não para o óbvio), e o que o roteiro fica devendo em relação aos outros longas, a parte técnica supre. Esteticamente, este é um dos trabalhos mais bem filmados e produzidos de Park, batendo de frente com “I'm a Cyborg, But That's OK”, que foi exibido aqui ano passado no Festival do Rio. O filme tem uma fotografia deslumbrante, uma trilha sonora linda e uma montagem, cortes, enquadramentos e direção de arte perfeitos. Enfim, um deleite para os sentidos.
A veia cômica do diretor está presente, como nos outros filmes da trilogia. Merece destaque a cena em que Geum-Ja vai à casa do casal que adotou sua filha, que é hilária. Há diálogos em inglês no longa, o que muitos apontaram, na época, como uma tentativa de aproximação de Park com o cinema ocidental. Talvez sim, talvez não.Lee Yeong-ae (que também pode ser vista em JSA) está perfeita na pele da ex-presidiária Geum-Ja, mas gostaria que o Choi Min-sik, que sempre é perfeito, tivesse uma participação maior no trabalho, pois quem já o viu em outros longas sabe do que o cara é capaz.
Perverso, o filme nos leva a uma das cenas mais comentadas da trilogia: a reunião de pais que acontece no fim do filme, que é de uma maldade simplesmente bizarra. É nessa reunião que Park cutuca a nossa moral, pois Geum-Ja tem milhões de motivos para se vingar, mas ainda assim pondera sobre o que fazer. E é aqui que o diretor nos faz uma série de perguntas, como o que é justiça? Ela vale a pena se nos condenarmos? Será que o processo democrático é realmente a melhor saída em determinadas situações?
E com a responsabilidade de fechar uma trilogia bem-sucedida, Lady Vengeance traz um epílogo mais do que necessário, no qual mostra um indivíduo em uma busca infinita por redenção que pede ao espectador que permaneça íntegro, ainda que o que você tenha presenciado no filme seja o oposto. Talvez essa redenção de que o filme nos fala seja a tão esperada paz buscada não só por Lee Geum-Ja, mas por todos os personagens que foram mostrados de forma tão lúcida e cruel por Park na sua trilogia.

Imperdível como os seus antecessores, Sympathy for Lady Vengeance é um filme obrigatório para qualquer fã de cinema que se preze.

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O longa tem distribuição no Brasil feita pela Europa Filmes e pode ser encontrado em qualquer locadora.