segunda-feira, 21 de abril de 2008

SYMPATHY FOR MR. VENGEANCE

O primeiro capítulo da trilogia da vingança de Park Chan-Wook é o mais cru, trágico e brutal da série, além de ser um soco no estômago e um exemplo poderoso de como a ética é uma coisa relativa e de como a violência gera mais violência.

Com: Kang-Ho Sang, Ha-kyun Shin, Du-na Bae, Ji-Eun Lim. "Boksuneun naui geot" 129 mins. Coréia do Sul, 2002. Direção: Chan-wook Park.
Cotação: 10

O filme tem como um dos personagens principais Ryu (Shin), um jovem surdo e mudo que precisa urgentemente de dinheiro para que sua irmã (Lim) possa fazer um transplante de rim. Depois de ser demitido da fábrica onde trabalha, ele decide pagar para que traficantes de órgãos retirem um de seus rins na intenção de doá-lo à sua irmã, mas é enganado pela quadrilha. Sem emprego e sem dinheiro, Ryu é convencido pela namorada Yeong-mi (Bae) a seqüestrar a filha do seu ex-chefe, o Sr. Park Dong-jin (Song), para conseguir o dinheiro do transplante. O rapto corre como o planejado, mas uma fatalidade vai mudar para sempre a vida das pessoas envolvidas na situação.
Pela sinopse, esse parece ser apenas mais um longa sobre vingança. Só parece, porque assim como Oldboy, Mr. Vengeance não é um filme sobre vingança como os que estamos acostumados a ver por aí; não é um trabalho com personagens caricatos e superficiais como o herói lindo e forte que espanca todo mundo, faz gracinhas e dá lições de moral, a mocinha que só pensa em compras, festas, gatinhos e popularidade. Também não há tiros e explosões a cada 5 minutos nem milhões gastos em efeitos especias; tampouco há piadas sem sal que tentam desesperadamente agradar o público. Não, definitivamente não. Aqui o humor é ácido, a violência não se justifica por si só, o roteiro é muito bem escrito e o mais importante: em meio à busca incessante (e violenta) por vingança que ocorre no trabalho, há espaço para entendermos com mais profundidade a complexidade dos personagens. Um exemplo disso é a forma como a filha do chefe de Ryu se apega aos seqüestradores de modo quase familiar devido à falta de tempo e atenção dos pais.

Uma coisa que me chamou a atenção na película foi a maneira como Park retratou as ações e reações dos personagens. Se em Oldboy eles são movidos por tragédias e fantasmas do passado, em Sympathy eles agem de acordo com a situação em que se encontram. Como na vida, certo e errado são relativos e as decisões tomadas pelos personagens podem até não parecer corretas para o espectador, mas duvido que você não cogitaria as possibilidades apresentadas no longa se estivesse na mesma situação.

Outro ponto alto da projeção é a trilha sonora (ou a falta dela). Como o personagem principal é surdo/mudo, Chan-Wook optou por quase não fazer uso de música no longa, chegando a homenagear o cinema mudo em algumas partes, quando os personagens se comunicam através da linguagem de sinais e a legenda branca aparece no fundo preto. Acertou em cheio. A ausência de música no filme, que tem apenas uma introdução de piano no início e uma música macabra no meio e no final da projeção, provoca longos silêncios que deixam o espectador angustiado em vários momentos. A fotografia está sempre variando em valorizar o 1º plano, embaçando o fundo, e vice-versa.
A película tem um bom ritmo, chegando a fazer com que o espectador queira que o longa seja mais lento algumas vezes para evitar o desfecho, que, como em Olboy, faz pensar. O elenco é bom e está seguro nas atuações, sendo difícil destacar apenas um nome. Song Kang-ho, que interpreta o Sr. Park Dong-jin, e também pode ser visto nos ótimos The Host (junto com Bae Du-na), JSA e Memories of Murder, é um dos ícones do atual cinema coreano. Shin Ha-gyun, que atuou no sensacional "Save the Green Planet", está muito bem como o surdo/mudo Ryu; e a bela Bae Du-na, que faz Yeong-mi, namorada de Ryu, não fica atrás de seus companheiros, protagonizando com Song Kang-ho a cena de tortura mais angustiante do longa.
Pesado, Sympathy não faz questão de agradar o espectador, tendo a coragem de mandá-lo para fora do cinema com uma enorme sensação de esgotamento e frustração pelo destino dos personagens (particularmente, fiquei um lixo depois do filme). Aqui a violência não é gratuita, não há heróis e vilões e os personagens têm motivos mais que relevantes para cometerem os atos que cometem. Aqui, todos têm virtudes e defeitos e são, acima de tudo, HUMANOS como todos nós. Aliás, humanidade é uma palavra que será bastante usada para falar dos filmes da trilogia da vingança de Park.
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O longa tem distribuição no Brasil pela Europa Filmes e pode ser encontrado em qualquer locadora.

4 comentários:

Douglas Almeida disse...

Interessante. Tenho reparado nos filmes comentados por você aqui, que alguns filmes orientais gostam de não ter muito aquela coisa hollywoodiana de heróis e vilões definidos à rigor. Isso é interessante, porque muitas vezes agimos como vilões e heróis. Ninguém é totalmente herói nem totalmente vilão, somos humanos e erramos. Essa falta de definição deixa o filme intrigante, pois nunca se imagina quem vai salvar e quem vai aloprar. ENfim, mais um bom post, com boa descrição.

Bonine John disse...

Hoje estava tentando assistir o tal filme. Larguei-o. Como disse: é um soco no estômago. Como podem exagerar em tal brutalidade?.
Mas é nessa hora que penso : “foda-se” , o filme (mesmo tendo assistido pela metade) parece ser maravilhoso. O problema foi meu estômago mesmo. Quando chegar em casa, vou para a “segunda parte”.

Tales de Azevedo disse...

Ah tempos você me fala sobre esse filme e eu até agora não consegui alugar o mesmo :( Só sei de uma coisa, lendo essa sua resenha fiquei com mais água na boca ainda para ver o filme!

Bonine John disse...

Tales, o filme é foda!