segunda-feira, 3 de março de 2008

My Sassy Girl

O filme de Kwak Jae-yong é um vendaval de originalidade que varre um gênero dominado pela imbecilidade.


Com: Jeon Ji-hyeon, Cha Tae-hyeon, Yang Geum-yong, Song Ok-sook, Han Jin-hee, Kim In-moon, Kim Il-woo. Diretor: Kwak Jae-yong Coréia do Sul, 2001 Cor – 137 min./122 min.

Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=mZQCHWOM9bw
Cotação: 9.0


Não sei se é só comigo que isso acontece, mas sempre que vejo (aliás, desde a primeira vez que vi) “My Sassy Girl” lembro da música da Legião Urbana ‘Eduardo e Mônica’, pois são muitas as semelhanças. É ela quem manda na relação e toma a iniciativa em tudo, ficando ele sujeito às suas vontades e variações de humor se não quiser “morrer”. E as vontades dela (que não tem o nome dito uma vez no filme, sendo feita apenas uma suposição de que o seu nome seria Jung-jo) vão das coisas mais simples, como receber uma rosa na sala lotada de um liceu, às mais bizarras, como exigir que ele troque de sapatos com ela, usando o seu salto-alto e nenhum outro tipo de calçado mais.

O pobre rapaz que suporta todas as loucuras dela se chama Gyeon-woo. Ele é o narrador da história que começa com ele voltando ao lugar onde dois anos atrás enterraram uma cápsula do tempo e combinaram de se encontrar. Na cidade, dois anos antes, o jovem estudante se depara com uma moça caindo de bêbada no metrô e após uma série de acontecimentos, os dois começam a passar mais tempo juntos se tornando uma espécie de casal. De início, Gyeon-woo quer apenas curar a dor que vê nela e livrá-la das lembranças de um doloroso passado, mas logo as coisas mudam.


Ao contrário do que a sinopse pode sugerir, “My Sassy Girl” é uma comédia, e das boas. Sucesso de bilheteria na Coréia do Sul (país natal do trabalho) à época do seu lançamento (2001), só perdendo em bilheteria para o filme ‘Chingu’, o longa é um OVNI no meio de tantas comédias imbecis feitas mundo afora todos os anos e um exemplo de que com diálogos inteligentes, um pouco de boa vontade, bons atores e direção, é, sim, possível fazer com que uma premissa que soa ‘rasa’ se transforme numa história interessante capaz de prender até uma pessoa que não é fã do gênero, como eu.

O filme é dividido em três atos: os dois primeiros, que se concentram no começo da relação dos dois, os detalhes dela e na construção dos personagens, além de servirem também como os recipientes em que a comédia se desenvolve, e o prolongamento, do qual falarei mais adiante.


Respirando naturalmente, um dos grandes méritos do filme é não presumir que o espectador seja um completo idiota. Sem estabelecer vínculos que o prendam ao gosto médio do público que não exige nem de si nem do filme, ‘My Sasy Girl’ frustra os espectadores preguiçosos ao evitar os clichês tão comuns do gênero. Aliás, errei a palavra. Evitar, não, tratar bem os clichês. Outro mérito do longa é saber lidar com eles, pois a maioria está ali: um casal que se conhece em circunstâncias, digamos... diferentes, brigam, se reconciliam... E ainda que pareça uma ironia essa seqüência de clichês, o filme foi baseado numa história real escrita por Kim Ho-sik, em que este relatava num blog as aventuras e desventuras ocorridas com uma mulher com quem tinha mantido uma relação.

O grande diferencial do trabalho reside no modo como tudo é feito, que é bem original. A maneira como certas situações são tratadas são realmente muito inteligentes. A cena em que surge um ‘clima’ entre os protagonistas, por exemplo, poderia facilmente cair no óbvio, mas o roteiro não permite. Além disso, o humor (certas vezes non sense) é muito bem empregado. A cena em que ‘ela’ e Gyeon-woo estão no metrô e fazem uma aposta é hilária. As seqüências com o pai ‘dela’ são ótimas também (vide a referência ao episódio do Chapolin no qual o pirata Alma Negra bebe o sonífero. Hehehe).

As histórias que ‘ela’ escreve, sempre com uma heroína que vem do futuro, além de engraçadas, recheiam o filme e não deixam que ele se torne monótono ou perca o ritmo. Aliás, é impressionante que um filme de 2 horas e 20 minutos, um caso raríssimo para a comédia, nos mantenha presos e curiosos para saber o desfecho por tanto tempo. Um detalhe interessante é que como na Coréia o sistema de produção e exibição força a maioria dos filmes a ficar na casa dos 120 minutos, o filme foi cortado em cerca de 17, 18 minutos na sua versão de cinema, mas há a versão do diretor, que traz os minutos restantes inclusos.

Grande parte do mérito pelo sucesso da obra está nos dois atores principais: a bela Jeon Ji-hyeon, que também pode ser vista em Il Mare (cujo remake é "A Casa do Lago") , e Cha Tae-hyeon, que carregam o filme praticamente sozinhos. A primeira interpreta de forma competente e divertida uma pessoa completamente instável e descontrolada, que num momento está bem e no seguinte está explodindo de raiva querendo matar o pobre Gyeon-woo. O segundo se sai muito bem como o bom rapaz sem rumo na vida que suporta as muitas mudanças de humor dela e se propõe a praticar esportes que não domina (“por que a bola sempre atinge a minha cara?”), escalar uma montanha apenas para tê-la por perto, entre outras coisas. O monte de caras e bocas dos dois me lembraram o Jim Carrey, mas nada muito exagerado.

Tão bom é o trabalho deles que após os dois primeiros atos estamos realmente preocupados e angustiados com o desfecho que vai se insinuando. E não tente comparar ‘My Sassy Girl’ com qualquer outra comédia que você á tenha visto. Aqui não há espaço para sentimentalismo barato nem lições de moral. Funcionando como antítese dos dois primeiros atos, nos quais o riso rola solto, o prolongamento é puramente emocional e dramático, sem situações forçadas para estimular o riso e o choro.

A trilha sonora se encaixa de uma maneira exemplar com o filme, que tem como tema principal a música ‘Cannon e ré menor’, do compositor Johan Pachelbel e “My Girl”, de Smokey Robinson e Ronald White, do grupo “The Temptation”.


Para aqueles que acreditam, o filme propõe ainda uma discussão interessante: com tantos encontros e desencontros os dois personagens não estariam destinados um para o outro? O destino realmente existe? Somos donos do nosso destino ou ele é que nos tem?

Seja qual for a sua resposta para essas perguntas, prepare-se rir (e chorar, se você for mais sensível) bastante com esse filme que, sem nenhum medo de exagerar, considero a melhor comédia romântica já feita. Quem sabe vendo o filme com amigos você não conheça uma “pessoa do futuro”...

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O filme não tem distribuição no Brasil, mas (pra variar) vai ganhar um remake americano que será dirigido por Yann Samuel e terá no elenco a linda Elisha Cuthbert (de "Um Show de Vizinha") e Jesse Bradford (de "A Conquista da Honra"). Alguém aí quer apostar que o remake não vai chegar aos pés do original?

Um comentário:

Anônimo disse...

Talvez seja um bom filme mesmo. Ao que me parece já que o prolongamento é uma antítese dos 2 primeiros atos, que é uma comi-tragédia ( ou tragi-comédia ), a não ser que tenha entendido errado. Não sou fã dos filmes orientais, mas sei que muitas das coisas que gosto do cinema americano são remakes dos orientais. O problema dos remakes americanos é que, com isso, os filmes originais passam desapercebido e acabam agregando a qualidade do filme apenas ao remake, já que a maioria desconhece o original do filme ( eu sou um desses da maioria, mas gostaria que esses filmes fossem divulgados por aqui também ).